quinta-feira, 26 de julho de 2012

NAS ASAS DE UM BESOURO

- Você toca algum instrumento musical?
- Toco. Flauta doce. Por que a pergunta?
- São escassas as palavras agora, mas tentarei explicar: teus olhos solfejam a verdade escondida com esforço, o desejo de ter o céu, mesmo no tempo do bater das asas de um besouro. O que há aí é teu tesouro, cujas vitrines são esses teus olhos musicais.
- Como você sabe tudo isso de mim? É um tipo de vidente ou algo parecido?
- Sou vidente, contudo não do tipo que enxerga o que há para acontecer. Ver o futuro é alterar o futuro. Não gosto de bagunçar as coisas. Eu apenas olho mais demoradamente para o instante, para o já, a fim de enxergar o que passa ligeiro à cara dos desapercebidos.
- Isto é uma cantada?
- Sim. É uma cantoria de versos bem humildes, porque as palavras me são poucas em diversidade.
- Você não entendeu o que eu disse?
- Entendi. Você perguntou se é uma cantada e eu respondi que sim.
- Sabia que você é muito hábil no uso das palavras?
- Tem certeza que quer começar a falar de mim?

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