Era o dia mais esperado do mês: receberia, finalmente, a caixa. Esperou-a pacientemente durante quarenta e sete dias. Já era hora de chegar. Moveu-se o mais rápido que pode à portaria.
- Chico, chegou alguma caixa pra mim?
- Não. – respondeu o porteiro com sua habitual expressão inalterável.
Deu prosseguimento a todas as suas atividades previstas, voltou para casa e dormiu. No dia seguinte:
- Chico, alguma caixa pra mim?
- Não. – e sorriu discretamente para o morador.
Fez tudo o que deveria fazer. Voltou para casa e dormiu. Era o terceiro dia.
Quarto dia:
- Chico, alguma caixa pra mim?
- Hoje não. – o riso agora era evidente.
“Estará este filho da puta rindo de mim?”, e seguiu para mais um dia de atividades. Voltou para casa mais cedo, para dormir mais cedo, e acordar mais cedo, a fim de não correr o risco de a caixa ser interceptada equivocadamente por algum outro morador.
Quinto dia.
- Chico, algu...
- Não, não. – Chico já estava a se divertir com a presepada. – quem sabe amanhã, né? Tudo é uma questão de sorte! – o morador saiu contrariado, deixando para trás o porteiro que gargalhava.
Fez tudo morosamente naquele dia. Enrolou até quando pode no trabalho. Chegou em casa mais tarde, assistiu a um filme qualquer na televisão, e dormiu depois da meia-noite. Acordou tarde naquele sexto dia, pois era domingo. Ninguém faria entregas no domingo.
Decidiu almoçar fora. Ao cruzar a portaria, Chico o interpelou:
- A caixa chegou.
- No domingo?
- Sim, chegou cedo.
- Cadê?
- Os caras da transportadora disseram que só entregariam para o destinatário. Interfonei para o teu apartamento, mas ninguém atendeu.
- E a caixa?
- Levaram de volta.