segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Vamos rir mais

Deixarem as emoções falarem mais alto

Viver cada minuto como se fosse o último

Vamos trazer da nossa infância, o sorriso perfeito e verdadeiro

Fazer das nossas amizades únicas e exclusivas

Vamos deixar de lado nosso orgulho

Viver a vida e nada mais

Olhar para o impossível e dizer: “Eu consigo!”

Vamos rir mais

Ter coragem de dizer eu te amo! “pô”, não é tão difícil assim!

Vamos fazer de cada dia uma festa

Ei, eu sei que existem dificuldades, claro que existem, elas existem para você se surpreender consigo mesmo

Não deixe a vergonha te atrapalhar

O medo te dominar

O estresse contagiar

A avareza te afundar

A preguiça te limitar

A impaciência te desesperar

A tristeza te matar

Espere, confie, alcance

Vamos rir mais...

SEDE, SUOR E SAL

                Era uma miragem. Só poderia ser. O avesso da meia noite, sol na cara, sede, suor e sal por todo canto. O carro vermelho parou e abriu sua boca gelada:

 

- Entra aí, tá todo suado! Tá indo pra onde?

 

            Olhou para esquerda, direita e para trás, procurando alguém, mas era com ele. Entrou no carro, pôs o cinto e fechou os olhos. The look of Love tocando, na voz da Diana Krall. Ouviu a música. Sentiu a brisa do ar condicionado. Parecia roteiro de cine privê, mas a música era boa e a temperatura também, então relaxou até o momento do aplauso.

 

- Amo esta música, sussurrou para a motorista.

- Eu também.

- Respondendo sua pergunta, estou indo para casa, almoçar e cochilar.

- Ok, indique o caminho que te deixo na porta, a menos que queira sugerir outro destino...

- Não consigo deixar de notar a marca da aliança recém-tirada. Quem rompeu com quem?

- O tempo nos rasgou no meio. De um que fomos, nos fizemos dois em tédio e ódio.

- Como alguém se entediaria ao lado de uma mulher interessante como você?

- Isso não é novela, amigo. Me sinto a mulher mais feia do mundo. Feia e velha.

- Quantos anos?

- Trinta e dois.

- Você não é velha, nem feia. Casou com que idade?

- Com dezesseis, convencida pela minha mãe, a “fisgar o bom partido”. Agora, dezesseis anos depois, veja como estou: um fracasso de mulher. Perdi minha juventude e beleza, não estudei, não fui feliz, e agora estou aqui com você. Quer me comer?

 

            “Pronto, agora é cine privê mesmo”, pensou. Era um rapaz de muitos escrúpulos no que tangia à alma feminina. Não suportaria ver uma dama chorar. Embora fantasiasse uma situação como aquela em seus momentos de solidão, que eram muitos, jamais seria invasivo com aquela jovem senhora, que gentilmente cedeu-lhe a intimidade de seu carro.

 

- Hã?

- Vai dizer que entrou no carro só por causa da carona? Quer me comer ou não?

- Podemos conversar mais um pouco?

- Não vai me dizer que, de todos os caras para os quais eu poderia dar carona, o que está aqui é gay, por favor...

- Não sou gay.

- Então, quer me comer ou não? Não sou gostosa o suficiente? Quando tinha dezesseis todo mundo queria me comer, mas não dei pra ninguém. Casei virgem, de branco na igreja e tudo. E de que adiantou? Nada. Casei sem foder e a vida fodeu comigo.

            - Você é muito bonita, a questão não é essa.

- E qual é a questão? Só para avisar, vou entrar no primeiro motel que aparecer.

- Não sou eu que estou no volante...

 

            Ela foi mesmo para o motel. Parou o carro na recepção, pediu a chave de um quarto caro, lá estacionou, desceu do veículo e deixou a porta aberta atrás de si.

 

- Ei, não é para baixar o toldo?

- Não tenho nada a esconder, você tem?

- ...

 

            O rapaz foi ao banheiro e lavou o rosto tantas vezes, que poderia ter ficado sem pele. Quando retornou, a mulher estava nua e era linda, exceto por poucas estrias de alguma gravidez precoce. Ele corou. Não soube o que dizer, e sempre tinha algo para falar. Era um náufrago, definitivamente.

 

- Não quer me comer?

- Sim, quero. E vou.

 

            O jovem atirou-se na cama de roupa e tudo. Beijou-a violentamente. Ela cravou as unhas em suas costas e quase o partiu no meio com a tesoura de suas pernas. O termostato acusava quarenta  e nove graus de excitação, derretendo bijuterias e alargadores de orelha.

            Então veio o inverno antes do outono. Ela parou, empurrou-o e, em meio às lágrimas de sua verdade doída, cobriu-se com o lençol de muitos casais, a soluçar. Sentindo nojo de sua morte em vida, continuou a carpir sobre seu próprio cadáver.

 

- Eu morri há dezesseis anos...

- Não, você está viva, embora muito confusa. Não viveu nem um terço do que pode viver. Ainda não te conheço, mas presumo que seja um botão castigado, que vai se abrir numa flor tardia. Só precisa de cuidado, carinho, atenção. Precisa ser reconhecida como mulher, e não como objeto.

- Será que ainda tenho chance?

- Claro que tem!

- Vamos nos vestir e ir embora?

- Vamos sim. Minha camisa tá meio rasgada, mas vamos.

 

            Ela pediu a conta e pagou. Saíram do motel, circularam por alguns minutos ouvindo qualquer coisa no rádio, mas sem conversar. Ela então toma a iniciativa:

 

- Você mora onde mesmo?

- Do outro lado da cidade.

- Aproveita e desce naquele ponto de ônibus que parece vazio. Foi um prazer te conhecer.

- Espera, não ia me levar em casa?

- Ah, isso era antes.

- Não vai ao menos me dizer seu nome?

- Não. Agora desce que vou ao salão, cuidar do cabelo e das unhas. Você abriu meus olhos. Desabrocharei.

- Não posso pegar ônibus com essa camisa rasgada, vão pensar que sou bandido.

- O importante é você ter a certeza de que não é. Agora desce.

- D:

- Tchau XD

- D:

 

            Pegou o ônibus cinquenta minutos depois, chegou em casa às cascas para comer, mas precisava de um banho para se livrar do sal e da sede. Banhou-se brevemente, bebendo a água morna do chuveiro, de modo a não perder tempo.

            Na cozinha não havia comida. Todos saíram para o restaurante. Na mesa branca de plástico, um bilhete.

 

Te esperamos, mas a fome era muita, então fomos sem você. Até mais tarde.

domingo, 17 de outubro de 2010

O LADRÃO E O LADRÃO?

DELEGADO: como assim, você colidiu com um carro, desceu do seu e roubou outro para se vingar?

ACUSADO: não roubei, doutor. O motorista do outro veículo me apontou uma arma, mandando descer do meu carro. Como eu estava apressado, utilizei a viatura abandonada pelo meliante para chegar ao meu destino, quando fui abordado pelos policiais, que me informaram ser o carro que eu dirigia produto de furto. Agora estou aqui.

DELEGADO: Então você roubou um carro que já era um carro roubado?

ACUSADO: Como já disse, doutor, não roubei nada. Só dei azar de conduzir um veículo subtraído de seu dono original por um terceiro.

DELEGADO: você vai me dizer que também não sabia que o “seu” carro também era roubado?

ACUSADO: doutor, isso é uma acusação muito grave.

DELEGADO: eu sei. E os policiais que prenderam o “ladrão” do seu carro só o fizeram por causa da denúncia de roubo, que partiu do dono, e, a menos que você se chame Josefa D’Alma Avelar, é suspeito.

ACUSADO: doutor, Josefa é minha mãe. Chamo-a de mamãe Jô.

DELEGADO: mãe? Então você é um temporão e tanto, porque dona Josefa tem setenta e cinco anos.

ACUSADO: doutor, sou filho adotivo, de papel passado e tudo.

DELEGADO: seu nome consta no sistema como João de Jesus dos Santos.

ACUSADO: doutor, o senhor sabe que a informática tem suas limitações.

DELEGADO: cabo, por favor, relate os fatos, que estou cansado dessa embolada.

CABO: pois não, doutor. Os acusados envolveram-se em um acidente de trânsito. Ambos conduziam carros roubados. Após a colisão trocaram de veículos e fugiram para direções opostas, sendo presos em setores diferentes da cidade, e trazidos aqui para a DP.

REPÓRTER: o senhor roubou um carro e bateu em um carro que também era roubado, e teve o carro roubado pelo ladrão que dirigia o outro carro roubado, e em seguida roubou o carro abandonado pelo homem que roubou o carro roubado que o senhor dirigia, e está preso na mesma delegacia que o homem que roubou o carro roubado do senhor?

ACUSADO: isso é uma acusação muito grave, doutor. Como relatei ao delegado, não roubei nada. Só dei azar de conduzir um veículo subtraído de seu dono original por um terceiro, que se evadiu do local utilizando o automóvel pertencente ao alheio que eu conduzia. Em outras palavras, doutor, sou inocente.

sábado, 16 de outubro de 2010

O POETA

Panela de sopa de carne sobre a mesa do computador,
Lápis enfiado de travessa no cabelo e com algumas mechas soltas
All star preto comum balançando nos pés, escrevendo...
... textos, reflexões poesias, não precisa rimar.
Basta apenas ter sentido para quem lê
E a cada garfada, uma nova ideia.
Casos e acasos,
Alguns contam histórias verdadeiras, outras apenas ficção.
Algumas têm o sentimentalismo, e outras uma ponta de ironia
Mas todas têm algo em comum: retratam por menor que seja,
Algo que após ser lido foi ou é real para alguém.
E enquanto houver a simples poesia, o simples texto
Escrito a mão ou nos teclados do notebook,
Haverá o poeta, haverá o significado,
As lágrimas, os risos, o sarcamo.
E não são apenas textos feitos para se passar o tempo
Retratam o sofrimento escondido
Por entre tantas e tantas linhas da vida
Você vai abrir seus olhos.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

NOTA AOS MESTRES

Dia do professor. Duas e meia da manhã. Eu, Karla e a Valentina na barriga da Karla. Apesar dos braços engessados, persisto a digitar com um dedo só. Desejo aos meus colegas mestres toda a felicidade do mundo, e também a mim, e à Karla e à Valentina na barriga da Karla. Tenho fé, amigos, que as coisas melhorarão. Por isso estamos no magistério. Grávidos, não sem dor. Mas com fé.

PARA O TEU OUTONO

O alarme de todos os dias

Grita-me.

Grita-me

O que devo e o que não devo.

Tenta abrir meus olhos

Que não ouvem,

Não neste poema pequeno.

 

O poema diminuiu.

Dói-me o espaço

De cento e quarenta caracteres do poema.

Dói-me a higiene do abraço ausente,

Dói-me o ódio da multidão sem corpo.

 

O alarme grita-me o que não devo.

O que não devo?

Digo o que não devo.

Não devo me contentar com as folhas secas

Do teu outono que precede o inverno de lençóis sozinhos.

Para mim

Mais é a umidade daquele verão

E das sementes lançadas

Na terra

Que arei com dedos e unhas curtas

 - A terra que tomei.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

POEMA DE AMOR

Não faço poema sobre

Dor de amor,

Porque o amor

Não me dói.

O amor me alegra.

Me seca o suor

Da camisa depois

Do pesadelo.

Canta para mim

Com a mão nos meus cabelos,

Que hoje são curtos

E em parte brancos.

O amor me faz jovem e velho

E jovem de novo.

O teu amor.