terça-feira, 30 de novembro de 2010

DIAPASÃO

Nascido no dia dos poemas proibidos,

Meu amor por ti é uma vírgula esquisita:

                                                                 Não aponta

                                                                 Para o final.

É sempre esta constância, linha reta.

O meu amor por ti me mantém afinado.

domingo, 21 de novembro de 2010

QUARENTA E SETE SEGUNDOS

- Alô, quem fala?

- Oi, sou eu. Você me conheceu hoje na fila da farmácia.

- Oiiiiiiii, tudo bom?

- Tudo bom sim. Melhor agora que estou falando com você. Quando nos veremos de novo?

- Ah, marca um dia aí.

- Hoje?

- Hoje não dá, o marido da minha amiga viajou e ela separou umas comédias românticas para assistirmos juntas durante a noite.

- E amanhã?

- Amanhã eu tenho curso de espanhol.

- E depois de amanhã?

- Não dá também. Tenho igreja.

- No dia após a igreja, fechado?

- Vixe, também não vai dar.

- Estará fazendo o que?

- Nem sei.

- Então você não pode me encontrar porque terá um compromisso que nem sabe qual?

- É.

- E por que me pediu para escolher o dia?

- Por educação. Não queria te magoar.

- Ah, tá. Obrigado pela sensibilidade. A propósito, de que tipo de música você gosta?

- Qualquer uma que faça sucesso.

- Pode me dar um exemplo?

- Não sei, escolhe aí.

- ...

 

Duração da chamada: 47 segundos.

Atelliê. Fotografia Criativa

Minha 1ª invasão. Já que não sou boa com textos, vamos ás imagens.!
"Fotografo aquilo que não tenho vontade de desenhar. Aquilo que tem uma essência própria. Essência essa que só a fotografia consegue capturar."


Se é verdade que uma imagem vale mais que mil palavras, o blog Atelliê Fotografia Criativa está aí pra provar. Usando criatividade (óbvio) e valorizando coisas simples como um passeio de bicicleta, a vista da janela, um banho no rio. Além de fotografias mais elaboradas que despertam a nossa imaginação, algumas nossos medos, outras curiosidade, enfim, emoções. Também expõem trabalhos de outros fotógrafos, dão várias dicas e news.































































Essa eu particulamente adoro.
Que bom seria poder fotografar os pensamentos.!




DOIS PONTO ZERO

- Comadre, estou tão feliz!

- Por que?

- O professor disse que meu filho é muito bom em matemática!

- Sério?

- Nas palavras dele: “seu filho até parece um computadorzinho”.

- Mas que gracinha!

- O único problema é que ele não tem iniciativa. Sempre espera que uma nova atividade lhe seja designada.

- Que fofo! Muito diferente dos desordeiros que vemos por aí.

- Ele é tudo o que uma mãe gostaria de ter. Nunca me desobedece. Às vezes meio que fica paralisado, mas isso é da natureza dele. Basta dar uma sacudidinha que ele volta ao normal.

- Igual a um computadorzinho!

- Como minha sogra diz, “é uma versão melhorada do pai”. É muito controlado com suas emoções. Jamais o vi com raiva ou tristeza. Até parece não possuí-las.

- Igual a um computadorzinho!

- É, igual a um computadorzinho.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Xeque-Mate
O abrir e fechar das portas
Chega a ser engraçado
O quando pode sangrar um coração
Passado, já foi
Agora há a juventude posta diante dos teus olhos
O brilho, e o fogo
E agora tudo recomeça
Eu sinto estar voltando á razão
Recuperando os pedaços que se foram
Pondo novos e com proteção anti-amor
É meio louco
Tem muita luz da lua nos teus olhos
E isso faz os meus acenderem
E procurarem uma forma de te achar
E te amar
O escudo falhou
Novamente AMANDO
Não sei se a mesma pessoa
Mais novamente amando
Porque os espaços foram repostos
E novo em folha, um coração que fora quebrado
E estraçalhado
Mais agora, voltara a ser novo
De alguma forma
Ou por algum alguém
Mais ele voltou a bater
E eu pude voltar a respirar
Perdão,
Eu fui melancólica durante décadas
Durante a minha velhice
E agora durante a minha juventude
O passado e o presente misturados
Em uma trama
Na qual o amor nao é a opção final
Agora, façam suas apostas
E dêem um Xeque-Mate (:

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Expressão, arte, movimento

Uma sensação, como se estivesse no céu

Cada movimento

Respiro bem fundo, sinto a dor nas minhas articulações

(Tem que sentir para saber que está fazendo certo)

Passos, passos e mais passos

Surge então não só movimentos

Mas dança!

Se sentir livre, é se sentir bem

Não importa qual o ritmo

Ter a liberdade de se expressar

Reconhecer que errou

Fazer tudo de novo

Cada suor derramado é o preço de algo bem feito

Quando começo a dana aprender, desejo saber mais ainda

Quando danço, sinto-me aliviada

Respiro fundo

Danço e nada mais

Não é preciso de música

Só danço, mostro quem sou eu

Dançar é um modo de expressão

Só danço...

A dança me inspira

Acalma-me

Não importa o depois, só o agora

Viver, aprender, dançar

Respire fundo, bem fundo...

Apenas dance!!!

Nine Lives
Nove Vidas
Eu poderei viver assim?
Nove Vidas
Presas dentro de uma só!
Nove Vidas
São angustiantes os sonhos
Que logo desabam
Nove Vidas
Elas são misteriosas
E apenas o número NOVE reina
E o restante?
Apenas Nove Vidas
Pulsando e pedindo atenção
Nove Vidas
Você jamais saberá o que irá encontrar
Nove Vidas
Elas se misturam entre lágrimas
Risos e frustrações
Mais são apenas Nove Vidas
Nove (apenas)
Vidas (a cada momento se perdem)
Nove (é um meio de se descobrir)
Vidas (elas passam sem ninguem perceber)
Nove (o meu número predileto)
Vidas (escorrem por entre nossos dedos)
Apenas Nove e Dez vidas são o começo das outras...

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Garotas procuram

E eu poderia odiar alguém assim?

Que sabe do que eu preciso

Olha-me fundo nos olhos

Que diz que me ama

Abre a porta do carro para eu poder entrar

Um típico romântico

Abraço apertado

É bom se sentir amada

É se sentir querida

Precisamos de mais amor

Queremos mais cavalheirismo

E eu sei que em algum lugar existe um lorde, simples, engraçado, inteligente,

Romântico

Cadê estes homens!!!

Eu sei que ninguém é perfeito, mas podemos tentar

Paciência é uma virtude

Eu quero alguém assim...

domingo, 7 de novembro de 2010

TATÁ

            O poeta estava, de certa forma, aliviado. Havia tirado o gesso naquela quarta-feira. Jogou-se embaixo do chuveiro demoradamente, e não conseguia pensar em nada além da água que interrompia os dois penosos meses de aridez em seu corpo debilitado. Perdeu a noção do tempo. A única música que ouvia era a da água. Só ouvia a água.

            Dolorosa e vagarosamente, mudava de pele tal uma cobra branca, na má consciência de que a imortalidade não é privilégio seu. Se fosse um gato, restar-lhe-iam apenas mais cinco vidas, e a prova disto eram os restos de seu antigo eu a descerem pelo infinito do ralo de plástico encardido. Estava retomando a posse de seu corpo.

            Pegou carona com um amigo e foi até a clínica de fisioterapia, a fim de dar início a seu processo de reabilitação. Passou pela avaliação médica sem mais problemas. Tudo objetivo, como deveria ser. No dia seguinte começariam as sessões fisioterápicas, mais especificamente no fim da tarde. Estava definitivamente retomando a posse de seu corpo.

            Foi de táxi, para não perder a hora. Recepção calorosa da simpática secretária. Sentou-se na cadeira verde, apertando sua bolinha azul, ora com a mão direita, ora com a esquerda.

 

- Foi moto?

- Não, uma caminhonete.

- Bateram na sua caminhonete?

- Não, uma caminhonete bateu em mim.

- Uma caminhonete bateu na sua caminhonete?

- Não, a caminhonete bateu na minha moto, que era, naquele momento, pilotada por mim.

- Ah, então foi moto.

- Não, senhora, foi uma caminhonete. O condutor avançou o sinal e me bateu.

- Mas de qualquer maneira foi moto.

- Não, minha senhora, foi uma caminhonete.

- Quebrou muito?

- Não. Só o punho direito, o cotovelo esquerdo e o dedão do pé esquerdo.

- Doeu?

- Não, senhora, não doeu. Eu, na verdade, quero repetir tudo igualzinho como naquele dia, de tanto que eu gostei.

- Hã?

- Nada não, senhora.

 

            Fingiu atender o celular a fim de evitar o prolongamento da conversa com a senhora, que logo entrou para sua fisioterapia no joelho. Alívio imediato, a paz reinou na recepção. A secretária jogava Zuma Deluxe no computador, na mais absoluta concentração, enquanto o poeta imaginava sobre o que escreveria ao final daquele dia. Em seguida entram uma mãe e seu filhinho que aparentava ter cinco anos, para pedir informações no balcão. A secretária pede que a mãe espere um pouco. A mãe poderia sentar em qualquer uma das nove cadeiras distribuídas em três filas, mas sentou ao lado do poeta.

 

- Foi moto?

- Não, uma caminhonete.

- Nossa, e sua caminhonete tinha seguro?

- Eu não tenho uma caminhonete.

- Mas não foi caminhonete?

- Foi.

- Uma caminhonete bateu no seu carro?

- Não, a caminhonete bateu na minha moto, que, no momento, era pilotada por mim.

- Ah, então foi moto.

- Não, senhora, não foi moto, foi a caminhonete que avançou o sinal e me jogou a alguns metros de distância.

- Quebrou muito?

- Não. Apenas os dois braços e o dedão do pé esquerdo.

- Doeu?

- Não, não doeu. Eu até gostei. Tem uma caminhonete disponível pra bater em mim?

- Hã?

- Nada não.

 

            “Sr. Poeta, é a sua vez, siga-me por favor”. Era uma voz doce, como a voz da Corina do tele-táxi. Ou a voz da Maria, do tele-táxi. Ou da Ruana, também do tele-táxi. Estava mais para a voz da Corina mesmo.

 

- O Sr. pode deixar suas coisas aqui e deitar naquela cama ali.

- Obrigado.

- Foi moto?

- Não, foi uma caminhonete.

- Quase bateram na minha caminhonete também, essa semana. (essa era a fala de um paciente deitado em uma cama lá no fundo da sala)

- Mas eu não tenho uma caminhonete. Uma caminhonete bateu em mim, e eu estava de moto.

- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAH, ENTÃO FOI MOOOTOOOO. (os pacientes e as auxiliares de fisioterapia pareciam haver ensaiado o coro trágico).

- Não foi moto, foi uma caminhonete.

 

            A auxiliar de fisioterapia ostentava um sorriso largo. Parecia ter fugido da imagem estereotipada da mulher. Se ria, ria de verdade, um riso livre, beirando o desdém. Ela, então, aproximou-se do poeta e disse: “hoje vou te fazer gemer, com sensações jamais experimentadas em sua vida”. O poeta empolgou-se com aquela fala.

 

- Antes de começarmos, posso saber seu nome? Você daria uma ótima personagem para um texto meu.

- Tamiris.

- Como se escreve?

- É Tamiris, sem frescura. T-A-M-I-R-I-S. Mas prefiro que me chame de Tatá.

- Tá bom, Tatá. (achou tão musical dizer “tá bom, Tatá, que ficou repetindo em sua mente enquanto a moça arrumava os apetrechos necessários para a fisioterapia).

 

            Ela arrumou seu jaleco sobre a blusa de alcinha, que revelava uma pele morena ao estilo Jorge Amado, e pôs a franja de seus cabelos lisos detrás da orelha esquerda, deixando o lado direito levemente caído sobre o rosto. “Vamos começar, quando doer você me avisa”. “Tudo bem”, respondeu o poeta, demonstrando uma imensa satisfação por estar ali.

            Mas o poeta, que tudo observa, notou que todas as pessoas presentes naquela sala por uns instantes abandonaram suas conversas e se focaram nele e na morena cor de um verão constante. Logo entenderia o porquê.

            Ela alongou seu punho direito fraturado, e a dor foi absurda. Pediu para que ela parasse e ela não parou. “Outro dia uma criança me mordeu o braço todo, mas não larguei. Eu nunca largo.” Passou para o punho esquerdo que, embora não fraturado, esteve imobilizado pelo mesmo gesso do cotovelo. Dor tão intensa quanto. E o silêncio perdurava no ambiente.

            Ela então se voltou para o cotovelo. O poeta não sabia expressar se aquela dor era uma dor de morrer ou de nascer. Agarrou-se no braço da morena.

 

- Me larga, Tatá. Tá doendo. Ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai...

- Só largo se você me largar.

- Então solta primeiro. Solta, Tatá, tá doendo demais... (o poeta já estava suando frio)

- Me solta que eu te solto.

- Você não vai soltar.

- Solta que você vai ver.

 

            O poeta se sentiu frouxo. Se tivesse comido demais ou bebido muita água naquele dia, esvaziaria o seu ser, de uma forma ou de outra. Soltou o braço da morena, que, logo em seguida, soltou o seu.

 

- Não disse que te faria gemer?

- D:

- Agora vamos repetir e você tá liberado.

 

            AVISO: NESTE MOMENTO A HISTÓRIA POSSUI UM LAPSO, DEVIDO AO DESMAIO DO POETA DURANTE A REPETIÇÃO DA SESSÃO FISIOTERÁPICA. O MESMO ACORDOU NA HORA DE LIGAR PARA RUANA E CHAMAR UM TÁXI.

 

            Despediu-se de todos, incluindo de Tatá-doendo (passou a chamá-la assim depois deste dia). Entrou no táxi e pediu para o motorista ajudá-lo com o cinto. Ironicamente, apesar de andar muito de táxi naqueles dias, era a primeira vez que entrava naquele carro com aquele taxista.

 

- Foi moto, foi?

- …