Cinco minutos para escrever a dor grande que sentia. Era o tempo que restava de bateria em seu computador de mão, naquela tarde esquisita, naquela tarde sem cigarras.
- Um café, por favor.
- Alguma preferência?
- Café com leite, menos leite que café, e adoçante no lugar do açúcar. A vida com adoçante é demasiado amarga.
A garçonete riu daquela rabugice e foi preparar o café. “Agora me restam quatro minutos para dizer tudo que tenho para dizer”, pensou o poeta. Não sabia por onde começar, então começou pelo final: fim.
O café chegou.
- Mais alguma coisa, senhor?
- Sim. Outro café.
A garçonete repetiu o discurso anterior:
- Alguma preferência?
- Sim. Café com leite, menos leite do que café e açúcar ao invés de adoçante. A vida com adoçante é demasiado amarga.
A garçonete riu de novo e se dirigiu à máquina de café. O poeta continuava sem saber por onde começar. Prosseguiu de trás para frente: e depois de tudo isto, virá o fim.
O outro café chegou.
- Mais alguma coisa, senhor?
- Sim, outro café.
- Alguma preferência, senhor?
- Café com leite, menos leite do que café, e açúcar ao invés de adoçante, pois a vida com adoçante é demasiado amarga.
- Rapidinho fica pronto, senhor.
A garçonete não riu. Foi até a máquina, preparou o café e retornou.
- Mais alguma coisa, senhor?
- Sim. Um café puro, um copo de leite e o açucareiro. Deixa que o resto eu mesmo faço.
- Além disso, posso ajudar em mais alguma coisa?
- Já ajudou. Eu estava sem ideias para um novo texto, mas já sei sobre o que escrever.
Muito obrigado.
- A garçonete caminhou até o balcão, sem entender o que se passava.
- Garçonete, qual seu nome?
- Adelaide, senhor, com y no final.
- Adelaidy?
- Se pronuncia Adelaide, mas se escreve Adelaidy.
- Onde estão as coisas que pedi, Adelaidy?
- Estou indo senhor.
- Cadê o açúcar?
- Não temos açúcar, senhor.
- ...