domingo, 16 de maio de 2010

Rápida memória de uma prova

                Três ventiladores necessitando de manutenção, cantando incessantemente. Calor. Muitas pessoas reunidas no mesmo lugar, o que piorava a sensação térmica. Substituía seu amigo professor. A memória da dor de ouvido da noite anterior perturbava-o. Indagava-se se voltaria a doer. Tentou comparar dor de ouvido a dor de dente, mas não identificou quem doía mais. Pior seriam as duas juntas, falou a si mesmo, com um sorriso sem graça. Tudo lhe chamava a atenção, exceto a prova. Até o momento em que a viu.
                Seus cabelos vermelhos pareciam recentemente tingidos, já que neles tudo era vivo, à semelhança de uma bijuteria escarlate: embora sabido não-natural, admira-se, como a um pôr-do-sol na estrada. A presilha era uma borboleta estilizada, algo de uma filha de mãe zelosa. Os minutos da prova de matemática avançavam, enquanto lápis e borracha duelavam na página de questões, conferindo cuidadosamente forma a seu pensamento. Por um instante ela se debruçou sobre seu atual trabalho e pensou em rosas e em borboletas. E também em formigas. Lápis no chão e sem ponta.
 Professor, aponta para mim?
– “Pronto. Mas não sou professor”.
                Ambos retornam a seus ofícios, enquanto os três ventiladores da sala sussurram seu contínuo e inimitável mantra.

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